Mulheres na bíblia

Débora, a única juíza de Israel Breve história da profetisa e líder militar

Nos tempos antigos, Débora era a única juíza que Israel tinha e a quarta pessoa a servir nesta posição antes da monarquia (tempo do Tanaj ou Bíblia Hebraica). Entre outras coisas, Débora, que além de juíza era profetisa, é descrita como uma pessoa habilidosa e inteligente, com notável liderança política e militar. O capítulo 4 do Livro dos Juízes conta que Débora deu suas ordens e atendeu aos que foram chamados a julgamento, sentada sob uma palmeira, entre Ramá e Betel, no Monte Efraim. Além disso, sua liderança foi essencial para Israel alcançar a vitória final sobre o general cananeu Sísera. Seus dons como profetisa foram decisivos, pois ela sentiu uma ameaça: Os cananeus viam os israelitas como invasores de suas terras e queriam recuperar o que consideravam sua propriedade. Débora convocou o general Barak para lutar esta batalha e profetizou que ganhariam a grande batalha contra os cananeus. Ela também anunciou que seria uma mulher quem assassinaria o chefe do exército inimigo, Sísera. Essa personagem era Yael, a esposa de Héber o Cananeu, que cravou uma estaca na cabeça do general Sísera enquanto ele dormia (Juízes 4:21- 22). Desde então, a nação viveu quatro décadas de calma. Isso é registrado por uma das passagens mais antigas da Bíblia: Cântico de Débora e Barak: “E a terra descansou 40 anos” (Juízes 5: 31). Você sabia que: Em hebraico, o nome Débora – הרובד – significa “abelha”, em uma alusão ao ferrão cruel que ela infligiu aos cananeus na grande batalha no vale de Jezreel (Juízes 4).

DÉBORA, UMA LÍDER MULTIFACE As Escrituras não fornecem muitos detalhes sobre Débora. Segundo a descrição bíblica, ela é juíza, e esposa de Lapidot. Mas também é redentora do povo, profetisa e poetisa. Analisando minuciosamente esses poucos detalhes, podemos aprender sobre a personalidade multifacetada de Débora. A Débora juíza. A Débora juíza “julgava a Israel naquele tempo” (Juízes 4: 5). Como ela morava nas montanhas de Efraim, bem no centro do território ocupado pelas 12 tribos, os filhos de Israel subiam até ela para serem julgados, apesar do fato de que, para as tribos do norte ou do sul, esta viagem envolvia uma distância considerável. A imagem da juíza em seu “tribunal” é maravilhosa: “assentava-se debaixo das palmeiras, entre Ramá e Betel…” (Juízes 4:5). A Débora profetisa. A Débora profetisa falava em nome do Senhor, “Yahveh, o Deus de Israel te ordenou…” (Juízes 4:7). Em outras palavras, o chamado para a batalha contra o rei Hazor Jabim é um mandamento divino e não um capricho da profetisa. Da mesma forma, ela mostra sua habilidade de prever eventos quando diz a Barak, filho de Avinóam, o homem que ela escolheu para comandar os guerreiros, “E atrairei a ti para o ribeiro de Quisom, a Sísera, capitão do exército de Jabim, com os seus carros, e com a sua multidão; e o darei na tua mão”(Juízes 4:7 e 4:14). A Débora líder. Apesar de ter atribuído o posto de comandante a Barak, ele condiciona a sua aceitação ao envolvimento da juíza no campo de batalha. No entanto, ela avisa Barak que a presença de uma mulher na campanha militar pode afetar sua imagem masculina. Barak não desiste e diz, “Se fores comigo, irei; mas não fores comigo, não irei ” (Juízes 4: 8). É claro que a necessidade de Barak de lhe dar um “ultimato” no mundo machista do antigo Oriente Médio atesta a posição eminente de Débora como líder. Também podemos apreciar suas capacidades como estrategista militar, ela dá ordens a Barak de forma clara e simples, definindo quem é o inimigo (Sísera, capitão do exército de Jabim, com suas carruagens e sua multidão de soldados), definindo qual o tamanho do contingente militar que ele deve levar para o campo de batalha (dez mil guerreiros das tribos de Zabulón e Naftalí), e delimitando a zona onde ocorrerão as ações bélicas (ao pé do Monte Tabor). A Débora poetisa. Um capítulo completo do livro dos Juízes (o número 5) é dedicado ao cântico de Débora, mas é interessante que o curso do confronto seja amplamente descrito nele. Detalhes e imagens sobre a grande batalha contra Sísera se refletem no canto que também nos fala sobre o cotidiano dos dias anteriores aos de seu ministério: “cessaram os caminhos; e os que andavam por veredas iam por caminhos torcidos.

 As aldeias cessaram em Israel.” Em termos de hoje, diríamos que o estado de segurança pessoal nas estradas e a situação (socioeconômica) eram terríveis até que a juíza assumiu a liderança do povo de Israel. Resumindo, pode-se perceber que Débora possui todos os atributos que são importantes como líder de um povo, carisma, coragem e capacidade de liderar. Mas além desses três, ela nos mostra sua capacidade de fazer da espada uma a pena com a que escreve poesia e da pena uma espada que se levanta em tempos de calamidade

Rahab, a mulher que ajudou os espiões de Josué

De acordo com as escrituras, esta mulher, provavelmente uma prostituta, decidiu desafiar a ordem que o rei lhe deu de entregar os espiões. Rahab os recebeu em sua casa e os ajudou a escapar escalando uma parte da muralha da cidade. Em troca, ela pediu-lhes que salvassem a ela e sua família quando os israelitas invadiram a região. Os enviados aceitaram e pediram que pendurasse uma corda na janela para reconhecer a casa e não a destruir. Quando Jericó caiu, a promessa foi cumprida: Rahab e sua família foram salvos! Essa é a história que o Livro de Josué nos conta. Mais tarde, essa mulher aparece no Evangelho de Mateus (1:5), na genealogia de Jesus. De acordo com aquele texto, José, marido de Maria, mãe de Jesus de Nazaré, é descendente de Rahab. E em Hebreus 11:31 se lê: “ Pela fé, Rahab, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, acolhendo em paz os espiões.” Você sabia que: A figura de Rahab aparece em textos literários como a “A Divina Comédia”, do poeta Dante Alighieri. Lá, ela é mencionada no canto IX do Paraíso. RAHAB, A PROSTITUTA DE JERICÓ Segundo a Bíblia, Rahab era uma prostituta que residia na cidade de Jericó, foi ela quem escondeu os espiões que Josué tinha enviado para estudar a situação da cidade antes de ocupá-la. Sua ajuda foi decisiva na missão, embora ela já soubesse que, de acordo ao texto bíblico, Deus havia decidido entregar a Terra Prometida ao Povo de Israel, e que isso aconteceria por meio de uma campanha militar bem-sucedida. Da história do capítulo 2 do livro de Josué, podemos tirar várias conclusões: – A prostituta tinha casa própria em uma área da cidade. Pelo menos uma das paredes da casa fazia parte da parede periférica de proteção e, inclusive, uma janela (provavelmente alta) se abria nessa parede. – Ela tinha família na cidade, pais, irmãos e irmãs. – Rahab devia ser uma prostituta com boa situação financeira. 

O tingimento carmesim nos tempos bíblicos era extremamente caro e o uso do cordão escarlate para ajudar os espiões a fugir da cidade não deixa dúvidas da sua posição. – O rei de Jericó a conhecia e até confiava nela. Vemos isso quando ele acreditou na versão de Rahab: ela disse ao rei que os espiões tinham deixado a cidade antes do anoitecer. – A prostituição aparece neste texto como uma ocupação legítima aceita pela sociedade. Os bordéis neste período e, em tempos posteriores, eram consentidos, como evidenciado pelas palavras do profeta Jeremias (Jeremias 5:7). A literatura rabínica tardia conta que, após os eventos narrados nas Escrituras, Josué se casou com Rahab e de seus descendentes nasceram dez sacerdotes-profetas, incluindo Ezequiel e Jeremias. O Novo Testamento relata que Rahab era a mãe de Boaz, pai do avô paterno do rei Davi (Mateus 1:5). Portanto, tanto a Bíblia Hebraica quanto o Novo Testamento chegam à mesma conclusão: até mesmo os pecadores podem se redimir

Maria Madalena, a apóstola dos apóstolos

Sua vida aparentemente não foi tão polêmica quanto a fama que ganhou como prostituta a partir do ano 591, quando o Papa Gregório, o Grande, identificou Maria Madalena como a “mulher pecadora” que aparece em Lucas 7:36-50. Além disso, esses pecados foram considerados de natureza sexual. Segundo Lucas, Maria Madalena estava possuída por sete demônios e foi curada por Jesus, de quem se tornou sua discípula e fiel seguidora. Tão decisiva teria sido sua presença e autoridade que ela também é conhecida como a “apóstola dos apóstolos”. Os Evangelhos também relatam que Maria Madalena testemunhou a crucificação, morte e descoberta do túmulo vazio de Jesus. Na companhia de outras mulheres, ela foi a primeira testemunha da ressurreição, segundo uma tradição em que os quatro Evangelhos coincidem. Em seguida, ela comunicou a notícia a Pedro e aos outros apóstolos. De acordo com um relato que só aparece no Evangelho de João, ela foi testemunha ocular de uma aparição de Jesus ressuscitado. Seu nome é um dos que mais vezes aparece nos Evangelhos canônicos, seu lugar de procedência (Magdala) representa um dos sítios arqueológicos mais importantes dos últimos tempos e sua história se adaptou em numerosas manifestações artísticas, como a pintura, o cinema e a literatura. Maria Madalena é descrita como uma mulher independente, aparentemente solteira e com um caráter forte. Vários textos bíblicos narram que ela decidiu seguir Jesus da Galileia a Jerusalém (Mateus 27:55-56) e até ajudou a financiar suas atividades: “E ajudou o Mestre com seus próprios bens” (Lucas 8: 23). Nos evangelhos apócrifos também existem citações importantes sobre essa personagem que desperta tanto o interesse de historiadores quanto de pesquisadores que desejam seguir as pegadas deste passado bíblico. 

O Evangelho de Maria Madalena, que leva esse nome pelas referências que ele tem sobre uma discípula de Jesus chamada Maria, não é considerado um texto histórico e, ainda menos, confiável. Mesmo assim, este texto fala das tensões e reprovações de alguns discípulos por ser essa mulher a escolhida para receber as palavras e os ensinamentos de Jesus. Depois de ser conhecida como pecadora por séculos, hoje ela é considerada uma santa pela Igreja Católica, pela Igreja Ortodoxa e pela Comunhão Anglicana. Você sabia que: Maria Madalena em hebraico é “Miriam Ha Migdalit”, que pode muito bem ser interpretado como “Maria de Magdala”. Mas alguns estudiosos não acreditam que Maria fosse necessariamente de Magdala. Eles acreditam que como “Migdalit” vem do hebraico “migdal” e significa torre, Maria era chamada assim porque metaforicamente era semelhante a uma torre: firme e esbelta. A verdade é que no porto de Magdala foram encontrados os restos de uma torre e, provavelmente, daí derivou o nome da cidade.

Hulda, a profetisa sábia e discreta

Em dois livros da Bíblia, 2 Reis 22:11-20 e 2 Crônicas 34:22, conta-se uma história protagonizada por uma mulher, a profetisa Hulda, que segundo os textos bíblicos, profetizou: “Assim diz o Senhor: Eis que trarei mal sobre este lugar, e sobre os seus moradores, a saber: todo o mal do livro que leu o rei de Judá, porquanto me deixaram e queimaram incenso a outros deuses, para me provocarem à ira por todas as obras das suas mãos, o meu furor se acendeu contra este lugar, e não se apagará (2 Reis 22:16-17). De acordo com o relato bíblico, durante a reforma do Templo de Jerusalém, servos do Rei Josias encontraram o “livro da lei na casa do Senhor” (2 Reis 22:8). Josias interpretou tal descoberta como um sinal de ira divina “porque grande é o furor do Senhor, que se acendeu contra nós; porquanto nossos pais não deram ouvidos às palavras deste livro, para fazerem conforme tudo quanto acerca de nós está escrito” (2 Reis 22:13). Extremamente preocupado, o rei enviou vários de seus oficiais para consultar Hulda sobre o que ela poderia fazer para remediar a situação. Segundo o texto bíblico, Hulda era esposa de Salum, o encarregado de guardar as roupas do rei. Deus entregou, por meio dela, a profecia de que daria um castigo a toda a nação pelos pecados do povo no passado e que isso viria somente após o mandato do rei Josias. De fato, o texto bíblico indica que essa parte foi cumprida com a destruição de Jerusalém pelas mãos dos babilônios; no entanto, Hulda profetizou que Josias morreria em paz sem ver tal destruição. Esta profecia não se cumpriu, pois Josias morreu em Megido durante uma batalha contra o Faraó Neco. A pergunta que muitos exegetas do passado se fizeram foi: por que Josias não foi ao grande profeta de Israel do momento, Jeremias? Ele procura precisamente Hulda, que não era apenas inferior a Jeremias “na hierarquia”, mas também era mulher, algo incomum para aquela posição na época. Diferentes explicações foram oferecidas na literatura rabínica sobre este caso; por exemplo, que Jeremias não estava em Jerusalém naquela época ou que Hulda, sendo mulher, seria “mais branda” do que ele na sua profecia. Você sabia que: De acordo com uma das tradições rabínicas encontradas no Talmude, Hulda era descendente de várias gerações anteriores de Josué e Rahab. Além disso, você sabia que hoje em Jerusalém estão os restos dos “Portões de Hulda”, que serviam de acesso ao Templo e que, segundo alguns historiadores, a origem do seu nome se deve à proximidade dos portões à Tumba de Hulda (uma teoria não comprovada).

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